26 de setembro de 2014

26 semanas

26 semanas.
enfim o terceiro trimestre .

João Pedro, está bem e seu coração bate forte.
coração esse que me fez mais humana, mais flexível, mais sensível ao outro e resgatou a empatia que perdi.
perdi porque afinal o mundo nem era tão bonito e colorido como pintavam . e eu que me achava muito adulta, adulta e pronta . pronta pra rebater as críticas, afastar pessoas e me auto-afirmar .

não preciso mais me auto-afirmar.
eu sei quem sou. sei a que vim.
e o mundo como num piscar de olhos, voltou a ser colorido e tão ou mais bonito do que pintavam. isso ao mesmo tempo em que voltei a me preocupar com o outro, com o afligido, com o que sofre. com o outro.
o outro que não sou eu, o outro que não é meu . (que é fácil se preocupar com o outro que te compõe, como família, amigos e pessoas próximas) .

eu não preciso mais afastar as pessoas.
eu não me acho mais adulta e nem tão pronta pra rebater todas as críticas eu não preciso de afirmação.

a vida, o universo e tudo mais, me trouxe o joão .
e a sensação de que eu posso mudar o mundo, de que os fardos nem são tão pesados assim , que eu posso carregar, que eu posso lutar mais um pouco, que eu posso sentir mais dor, mais amor, mais empoderamento .
obrigada a vida, ao universo e tudo mais. obrigada ao Pai Celestial, obrigada a divindade .
que a vida é nada menos que divina. seja lá qual for a SUA definição de divino .

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10 de setembro de 2014

a vida que te obriga

a vida te obriga .

a superar . suportar , se portar .
aportar .

mas eu não quero, não quero e me nego .
me nego a naufragar . sem nome e sem destino .

eu quero o que não tenho.
eu choro o que perdi .

não quero as imposições da vida .
não quero as obrigações.

eu quero a liberdade , eu quero o que não tem nome.
eu quero a possibilidade do nada .
do não querer .

não.

8 de setembro de 2014

rascunho.

ser mãe é solitário.

quebrando a cara .
o coração em frangalhos, impede a concentração.
não há fome, não há riso.

só um buraco no peito. e sede.
sede, que me secaram por dentro .
estou seca.
preciso de água, preciso das lágrimas e do gritos.
mas não tenho forças. não quero gritar , não quero gritar .

eu só quero sentir .
deixei de sentir o joão.
deixei de sentir a felicidade imensa que me preenchia e bastava.
agora eu só consigo temer .
e pensar em como será quando ele chegar .

se estarei pronta.
e enfim as lágrimas chegam .
e me inundam por fora.
por dentro contínua seco e sem vida .
a única exceção é joão, que cresce .
mais por vontade própria do que por esforço meu .


setembro.

setembro.
é sempre um mês doloroso, um mês que deixa marcas.
na idade, no rosto, no corpo.

agora, somos dois.
agora dói por dois.
agora pesa mais .

agora, a barriga aumentou, os seios, os medos também.
e o agora não me pertence mais .

setembro.
meu primeiro aniversário como mãe.
e ser mãe dói.

sinto o peso do mundo,

assim como uma rosa sem espinhos .
incapaz de escapar .
incapaz de continuar.