não com quatro
17 de março de 2024
clarisse
não com quatro
6 de março de 2024
eu sou bipolar
eu sou bipolar
'Caio não era um suicida: menosprezava e era contra as pessoas que tinhas a indelicadeza de se matar, deixando os amigos morrendo de saudades do lado de cá. A reação era, apenas, um reflexo de febre.'
eu sei disso desde os 15, hoje tenho 32, portanto, mais da metade da minha vida sei do meu diagnóstico
um diagnóstico subestimado, pelos outros e por mim. como característica de uma bipolar tipo 2, eu sou uma pessoa com longas fases depressivas, que se confundem com minha personalidade, que é em sua natureza amável, empatica e tímida
eu desde sempre tive muito medo de ser eu, de ser ouvida, de ser vista e ou notada, passei a adolescencia me escondendo em roupas largas e escuras, em letras tristes e livros sem fim, estava sempre devorando o mundo, com medo de ser devorada por ele
eu sempre e até hoje escuto mais que falo, e uso estimulantes pra vomitar palavras engasgadas paradas na garganta ou situações não digeridas.
no começo era bem vexatório contar e que soubessem que eu precisava consultar com um psiquiatra, depois de um tempo virou uma situação engraçada, e que eu levava numa boa
os remédios quase nunca fizeram efeito ou me beneficiaram de alguma forma, eu ainda os encaro como intrusos, não como amigos, e isso é ruim, isso impede que eu mantenha estabilidade em medicar-me
em fases de mania, posso passar noites sem dormir, geralmente aficcionada por um livro, curso, tema ou série
pra em seguida esquecer por completo e agir em completo desinteresse por tudo e qualquer coisa que eu ouse me importar
os episódios de agressividade tem ficado mais constantes e intensos
eu deixe de ser alguém funcional, algo que em todo esse tempo diagnosticada me orgulhei, afora os episódios maníacos e de abuso de alcool eu sempre consegui manter uma vida funcional, apesar de nada equilibrada
mas, mal consigo colocar a casa em ordem, muito menos a cabeça
não consigo pensar racionalmente, priorizar o que é prioridade e agir
me sinto uma verdadeira ameba
tenho medo do instinto quase visceral que me bate as vezes de simplesmente sumir
tenho pensado cada vez mais e em mais formas em como deixar de existir
eu embaralho as palavras, termino frases, começando novas nas linhas de baixo, só pra minimizar, só pra esconder, só pra não dizer o que eu estou dizendo, que sim, não quero, e eu travo antes de continuar, pois não quero mais continuar
o que me impede é pensar no legado que deixarei pros meus, nos traumas que ficarão, na culpa que podem eles sem nada terem a ver com isso sentir em algum momento
o que me impede é saber que mesmo sendo essa bosta de mãe e pessoa nesse momento, eu sou o melhor que eles podem ter; e tem
o que me impede é o medo de deixá-los
queria ter a certeza de um plano superior e maior que os protegesse, do mundo, de mim
queria ter a certeza e a paz de ir, sem dor, não por medo da dor inflingida a mim, mas sem causar dor neles
roxo - pesquisar-oquesignifica
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