28 de junho de 2012

e agora tudo é paz



eu pensei que ficaria na prateleira para sempre  . 
mas o dia chegou . 
e eu fui .
fui  vendida . 

e gritei ao mundo que era bom amar . 
e na fila , na espera , te encontrei . 
você me encontrou . 
e foi bom
bom enquanto durou . 

e agora é tudo tão cinza , e as pinceladas são rosas , nada muito claro , nada como descrito , e agora tudo é paz . 
e eu ainda choro , mas me sinto em paz . mas não sinto . 
sua perda , sua ausencia . 

eu me sinto , eu me reparo , eu me atrevo a dizer eu amo .
a mim . 
o eu perdido , quase esquecido . 

obrigada . por resgatar o que restou de mim.
a mim . 

e agora tudo é tão verde . 
mas eu verde diferente . um verde musgo  . 
uma clareira distante . 
uma floresta solitária . 

uma vastidão de novos sentimentos , uma eternidade com prazo de validade . 
você resgatou o melhor de mim .
 

Sem amor só a dor .


eu não tenho enredo .
eu não tenho ginga .
não tenho suingue .
 
eu não tenho sede.
eu não sinto .
eu não sinto muito , eu não sinto nada .
 
não peço perdão .
não peço carinho .
 
só peço tempestade de verão , a garoa de São Paulo ,e deixo a praia pra depois .

eu protesto


eu não sei , eu não sei , eu não sei . 
o querer sempre é perigoso . 
o não querer mais ainda . 
eu não sei o que quero , e não quero saber .
 

saber , sempre o saber .
eu tenho de saber o que sinto , o que o penso , no que falar , como falar , com quem falar .
amar .
tenho que saber o que vocês sentem , o que esperam .
 
Vocês esperam
que eu ame . que eu chore , que eu viva feliz e diga coisas de amor .
 
eu só penso em não querer .
saber , andar , amar .
e repousar , sem ideias ou palavras .
o nada .
 
o absoluto .
 
eu quero o nada , eu não quero nada além.
 
o querer . o verbo , a posse se apossa .
não há uma história , uma canção , que não queira , expressar , ensinar. amar .


mas eu não .
quero e protesto enfim 

o que é imortal não morre no final



tão bonito isso de aprender .
o aprendizado vem sempre com o riso .
com aquele aperto no peito .
 
com a voracidade de nunca saber demais . 

de sempre ter algo mais , pra aprender , pra ler , falar , olhar .
as combinações são pra sempre e o pra sempre é eterno .
o chichê do eterno aprendizado , a forma simples de dizer que o pra sempre é sempre o novo . 
ou o velho descoberto hoje .
e o hoje que nunca mais será como o hoje que já foi ontem .
e o amanhã que nunca será como ontem e assim infinitamente combinando senhas , para tornar-se eterno . e acima de tudo memorável . 
não esquecível . que é inesquecível .
 
por que o que é imortal não morre no final , já dizia a Sandy .

a esfinge que mente


ah as garrafas , as garrafas cheias , as garrafas vazias .
 
os olhos . 
a boca, a vontade aumenta , calor crescente , cessam as palavras , os movimentos tornam-se lentos, o tempo ensaia a pausa , e passa , assim lentamente , pausadamente , repetidamente .
 
e os copos na mesa , logo rolam pro chão, rolam pelo tapete , a cortina esvoaçando .
 
e o tirar de roupa de pudores , de pecados . 
sua mãos hábeis , sua boca quente , seus olhos me devorando .
 
decifra-me ou devoro-te .
eu menti . 
você decifrou-me e devoramo-nos .

você mentiu . 
fingiu decifra-me e eu me despi , eu nua , as palavras amargas , todo desassossego , desesperança .
 
eu destilando toda a dor , curando a dor com destilados . 
você fugindo dessa realidade tão dura , eu me desculpando por me desculpar .
 
eu já ouvi essas palavras , eu já vivi essa mesma agonia .
 
amanhã vai chegar , e eu sei como será . 
dia de sol , e o calor , e a pele e os olhos que ardem
 
acordaremos tarde, caminharemos sem pressa  .
 
você segurará firme a minha mão e na despedida , não te olharei  , te levando a entender o meu não querer .
 
eu me vou . você se vai .
e novamente a vida voltará a estaca de dura realidade .

se esvai .

fundo do mar .


brincando de colorir . 
pintando cada ato , na cama . 
sono profundo .
 
a arte de gozar e amar . 
é arte amar e gozar . 
amar gozar e gozar amor . 
é arte e é raro e caro . 
dói bem mais do que o normal .
 
e leva um pedaço da carne 
e leva pro fundo do mar . 
um mar branco , arenoso , traiçoeiro .

ensaio


 
eu ensaio o amor . 
pra não acabar , pra torna-se pra sempre , pra nunca sair de cena , eu faço cena , choro faço drama , minto um compromisso , ensaiando o amar . 

eu me rendo


 
a tarde fresca , as janelas abertas , a cortina balançando com o vento .
a cama repleta de folhas e livros , o fone alto , e você cantarola canções de amor .
 

 
e assim você passa a tarde , a vida, escrevendo palavras soltas , sem que nada necessite de sentido , você descalça , sente o chão gelado , sente o sol no rosto , vê a rua deserta e o trem passado ao fundo do quadro , do quarto.
 
a vida como uma pintura abstrata . 
nada definido . 
nada 
tudo . 
sem perdas .
sem vitórias , só o aperto no peito e a vontade de viver , de que o tempo não passe , de que o relógio desacelere .
 
e ele desacelera , a melodia lenta , as palavras , os passos , compassos . 
o ritmo da chuva , dos pingos , e do raio de sol .
o ritmo das batidas do seu coração .
 
e ele bate lento , você respira lentamente , sua pulsação é quase imperceptível e você então não se aguenta em si e ri .
 
e erra o tempo do verbo e esquece a concordancia .
 
e o sotaque mais forte , e a bandeira branca . 
eu me rendo .
me rendo à vida . 

pra sempre agora


o que eu quero .
meus planos ?

terminar . 

ter a coragem de botar um fim .
ter a coragem de enxergar o fim. 

Porque eu tenho medo do fim , tenho medo do acabar . 

tenho medo do escuro e da cidade vazia .
tenho medo do silêncio que me invade quanto te olho .
 
sou sem ponto final . 
não ouso ser . 
quero somente estar . 
não quero ser . 
não quero o definitivo . 

eu quero o relativo .
eu quero o quase , não quero o fim .
 
eu quero pra sempre o agora . 

26 de junho de 2012

fim .


eu diminuo as possibilidades de magoas .
eu me tranco , me calo , me omito .
 
eu minto .
 
fecho os olhos , o coração e respiro fundo , puxando todo ar que meus pulmões conseguem suportar , toda dor que consigo suportar .
 
esgotar .
 
eu falo , eu escrevo . 
não escuto , não leio . 
eu vivo pra fora . 
esgotou-se  a esperança, a boa vontade , a fé no amor .
 

você confessa seu amor a mim , 
cheio de esperança de boa vontade . 
eu te escuto até o fim ,
e digo que é o fim  .

BlueBird- AZULIVRE




você me deu seu coração , que transformamos juntos em asas , asas para mim , asas para nós .
você me ensinou a voar . 
você me criou asas , você me ensionou a usa-las .
você me ensinou a voar , você fez voar . 
voou comigo .
salto no escuro , sem medo . 
sem medo de perder o chão . 
sem medo dos rápidos e seguidos rodopios , em suas danças e performaces .
por que eu desenhei uma gaiola , e você um pássaro . 
porque unimos um passaro azul , dentro da gaiola aberta . 
ele fica por que quer , eu não fecho a gaiola , porque o quero livre , azul , livre , livre azul
.





azulivre .

14 de junho de 2012

amor é outra coisa .

preciso confessar que é doce o seu pesar .

não sinto saudade , não sinto rancor .
só indeferença .
dessabor talvez. só um vazio .

uma marca no dedo , um espaço no coração .
um espaço guardado para a felicidade .

amor .
se eu te amei ? se fomos felizes .
meu bem , amor é outra coisa .

impropérios sérios


o céu cinza , as nuvens carregadas , aquela garoa fina , típica .
 
reunião de pais e mestres , eles não podiam ter escolhido dia melhor ?
 
eu bebo sim . 
demais . 
eu fumo sim . 
demais .
eu falo sim . 
demais . 
eu sofro sim . 
demais .
 
e é uma bebedeira cheia de culpa , e é uma tragada clichê , e é um falar rápido , aos tropeços , e é um sofreguidão sem fim , sem culpa , cheia de lágrimas e saltos no escuro .
 
sem contar as bebedeiras incontáveis , cheias de pecado e desonras . 
sem contar os cigarros molhados , nunca fumados .
 
minhas histórias são para ser lidas por leitores saltantes de uma página a outra do primeiro capítulo ao ultimo , sem medo , sem culpa . eles me entenderão .
 
a memória me falha , um monólogo sem fim , a história sem coadjuvantes , uma história sem mocinha , sem final feliz , a história cheia de clichês romanticos , com frases de Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector estampadas na capa .
 
será , que me tornei assim como tantas outras obcecada pelo hermano junk ?
 
sozinha no quarto , conluo que enfim posso brincar , como sempre quis sozinha , brincar de me trancar num armário qualquer , coma  cabeça dentro da sacola , esperando que ninguém me encontre antes de que todo o ar se esvaia .
 
brincando de sorte/azar com a morte
 
Lendo Sandman como se não houvesse nada além de enredos coloridos e quadrinhos
 
e os dias seguiam entre boas histórias , bebidas e sexo .
 
'minha garota predileta' é assim que ele me chamava . 
'meu junk predileto', eu retribuía .
 
apesar de até  agora nenhuma substância ilegal ter sido utilizada por ele , enquanto estávamos juntos . sabíamos que aconteceria mais cedo ou mais tarde .
 
era assim que eu gostaria que ele imaginasse . 
porque sem dúvida o significado de 'meu junk favorito' pra mim era outro .
 
sabia que mais cedo ou mais tarde , esse relacionamento , essa quase relação , esses olhares recheados de cumplididade , os risos pelos cantos da boca , e os corpos se aproximando como imãs , terminariam . me destruíriam .
 
da pior forma possível .
 
ele me conta hitórias , histórias de suas mulheres que mais me parecem com seres fantásticos , brotados de cabeça de um adolescente da purbedade .
 
mas me dói quando retorno a realidade e me lembro de quem ele de fato é .
 
tudo verdade . felizmente pra ele , infelizmente pra mim .
 
tão diferentes , a realização de um sonho , me tornou-me refem dessa iminente trajédia .
 
ele se vai . ele se vai , ele se vai . 
ele faz bico e reclama atenção .
 
levanto a cabeça lentamente, inclino-me e o beijo . beijo de leve .
 
penso em palavras que ainda não dissemos .
 
conto mais uma história triste , solto mais algumas lágrimas , aperto forte a sua mão .
 
eu sei . posso ver em seus olhos , a vontade de ficar . mas ele também sabe que não vai . sabe que precisa me deixar .
 
tem barreiras que não são transponíveis . nem mesmo pra possibilidade do amor .
 
não gosto de praia . da areia entre meus dedos , do forte calor roubando meus líquidos , produzindo mais líquidos .
 
entre praia e asfalto trocamos salivas , líquidos sagrados , na dança da sedução .
 
 
 

entre as leituras obrigatória para defesa do tão suado mestrado , eu me rendo a sua música , ao som que parte de seu interior , passa por seus dados e boca , me instiga me inspira .
 
eu o amo , passa pela minha cabeça e eu logo retorno a luta marxista filosófica .
eu me entrego a cada acorde , eu me rendo a cada nota , e ele nota , me nota , me olha e aprova .
e eu volto a rimar , rimas vulgares , bobeiras .
 
eu penso em criar sentido , eu penso em sentir a sua criação .
 
ainda não consegui entender ,e lá se foram duas semanas desde que você chegou, se instalou no apartamento ao lado . na zona oeste dessa cidade sem fim , sem luxo , sem móveis , sem aliança , sem orgulho .
 
e eu me pergunto por quanto tempo , e eu me pergunto por que aqui , e eu me pergunto por que eu .
 
enfim você para de tocar , e eu finjo estudar , desviando o olhar . ele percebe , ri entre uma tragada e outra se aproxima , e senta ao meu lado , calado . esperando um olhar de aprovação . uma brecha para falar .
 
discutimos políticas, vimos um  jogo de futubol de vársea , compramos camisetas iguais , tomamos cerveja na calçada .
 
duas semanas . as mais intensas dos ultimos vinte anos .
você ri . se julga velho .
 
eu acho graça do charme , acaricío seu cabelo encaracolado, sua barba espessa  .
 
sexta-feira a noite .
o retorno pra casa é longo , cansativo .
paro naquele bar , aquele que você não conhece , aquele que nos primeiros dias me acolheu.

verbo intransitivo


já pensei no amor de muitas formas. Quase como uma pesquisa de campo , 
me aventurei por esse pântano lodoso .
apesar de tudo , apesar do nada,

a eterna ilusão .
a pergunta sem resposta .
o acorde não tocado .
o vinil riscado , o filme sem aúdio , a tv sem cor .

ah, quantas buscas em vão.
quantas vidas perdidas .

depois de tanto dessabor , do gosto amargo na boca , depois das 
assumidas derrotas e lágrimas .
eu sinto o amor .

penso e então o sinto a todo momento , o amor .
eu sonho o amor .
e o amor é o meu sonho .


eu sonho e então amo , eu amor e então sonho , e tão clichê , tão 
aparentemente sem sentido , sem fé , sem esperança .

eu amo .
sem definições , sem rótulos , sem pessoa, sem conjugação .
amar .

verbo .
intransitivo .

acabou, enfim acabou


E amanhece um dia frio . um dia cinza , nuvens carregadas , aquela garoa .
É , o dia amanhece , tal como ontem , tal como amanhã .
E preciso confessar que de fato, acho tão bonito o vento no meu rosto 
, os dedos gélidos , o nariz vermelho , o silêncio do quarto vazio .

você se foi há dias .
a cama vazia , o silêncio dos dias , a solidão .
e por incrível que pareça , não sinto sua falta .
não sinto saudades .

só sinto pena .
pena de não termos vivido mais .
pena de termos gasto tantas palavras , tantas horas , sem precisão , 
sem amor , sem a perspectiva de felicidade .

sempre soube . sempre soubemos .
que não duraria , que não daria .
soubemos desde sempre que não era amor .
era egoísmo .

medo da solidão .
medo das noites mal dormidas , da cama vazia , do silêncio devastador .

mas aquela dor voltou , e as lágrimas presas .
chorei pouco . chorei quase nada .

surpresa , pra mim , pra você .
você me ligou , procurou , chorou .

eu desliguei , te ignorei , te deixei .

acabou , enfim acabou .

restou uma marca no dedo .
um vazio no corpo , uma esperança no coração .

4 de junho de 2012

doze andares e o vizinho

doze andares , desço correndo .
é muito , é demais , é impossível .
a vida e suas impossibilidades, sempre repito , repito , repito . esqueço .

não vai adiantar fugir , a sanidade não volta tão cedo .
deixe-a ir . repito . repito , repito , sento na escada .
medo de subir . medo de cair . medo de ficar .

apartamento novo , marca de aliança no dedo
solidão . a solidão enfim  conquistada, longe de casa , da familia , dos amores, dos problemas .

abro a janela agora ,
fecho os olhos .

não , não consigo , não consigo escrever , criar enredos , criar cenas, continuar a fazer sentido por mais de três parágrafos .

eu subi as escadas lentamente e repito , repito que isso é passageiro .
que a impossibilidade enfim chegou ao fim .

é . é ele .
no meu andar .
ao lado do meu apartamento .

eu preciso ser forte .
pra manter a calma .
perceber que vai além do que eu consigo ver .

ele será meu vizinho .

a outra


é , demorou .
mas eu voltei a sonhar .
me lembrando dos detalhes fantasiosos .

peças pregadas pelo inconsciente .
e é dessa vez impossível fingir que nada acontece ,
pois a ferida sangra , gritando por amparo , por atenção .
uma chaga não cuidada, não tratada , não curada .

não dá pra fingir que não vi , as cicatrizes que ela fez .

3 de junho de 2012

rascunho de mim .


eu não quero mais .
brincar de realidade .
eu quero que me devolvam , a minha sanidade .

sem rimas, sem amor , sem clichês .
eu quero .

eu sempre quis .

eu me perdi naquilo que perdi , naquilo que se perdeu .

1 de junho de 2012

Pai

E hoje tem Los Hermanos , e hoje tem as lembranças de um encanto que se quebrou .
Aquela vontade toda de ser alguém que não sou . Aquela tentativa vã de ser o Cristo da humanidade.
Aqueles meus pecados , que jamais perdoei .

Demorei a dormir , pensando em como é difícil por vezes viver , e em como eu posso como a mesma intensidade ir do céu ao chão , amar e odiar .

Eu sinto por ter te machucado , eu queria ter o poder de mudar as coisas. Mas dificilmente se o tivesse , faria diferente .
Eu tenho um conceito de certo x errado , errado . É o que você diz .

Não consigo te pedir perdão .
Não consigo dormir em paz .
Não consigo ouvir , não consigo .

eu fingi , menti , te magoei .

me perdoa , pai .