29 de outubro de 2023

Fragmentos do Paraíso - Jonas Mekas - 47ª Mostra de Cinema de SP

Depois de anos sem ver um filme que realmente chamasse minha atenção no cinema, eu aproveitei a Mostra de Cinema de SP no IMS pra ver Fragmentos doo paraíso, da diretora KD Davison, que trata de Jonas Mekas, pai do cinema independente americano. 


O cara é um dissidente, que não pertence a lugar nenhum a tempo nenhum, um poeta, um romantico, um historiador, gentil. 




"Por mais de 70 anos, o cineasta lituano Jonas Mekas documentou sua vida, no que ficou conhecido como seus filmes-diários. Da chegada à cidade de Nova York em 1949 até sua morte, em 2019, ele narrou o trauma e a perda do exílio ao mesmo tempo em que foi pioneiro em instituições de apoio ao crescimento do cinema independente nos Estados Unidos. O documentário analisa a vida e a obra de Mekas, a partir de milhares de horas do próprio trabalho do diretor, incluindo registros nunca vistos, e depoimentos de Peter Bogdanovich, John Waters e Martin Scorsese."



Eu ri de lado, eu chorei copiosamente, eu entendi muito de muito que já vi por aí e descobri de onde partiu, e agradeci silenciosamente a Mekas. 


Tem Lee Ranaldo, Phong Bui e Jim Jarmusch, tem o velho e o novo, tem chuva, tem Allen Ginsberg como eu nunca vi, tem Lennon e Yoko. Tem amor, tem separações, tem fragmentos de paraísos. 


tem algo que me fez escrever de novo depois de tanto tempo. obrigada Pamela Gomes por me acompanhar, por ser amiga, por ser sempre ombro, colo, ouvidos e coração. 


Obrigada Jonas Mekas por me fazer sentir de novo. 


17 de novembro de 2017

cinco anos de tretas

Puta que pariu, como é difícil viver com vc.
Como a gente briga, né?
Mas que mágica é essa que não permite que a gente fique bravo um com o outro por muito tempo.
Hoje, conversando sobre a vida o universo e tudo mais, falamos sobre como a gente amadureceu nesses cinco anos.
E, é estranho. Não consigo decidir se parece que a gente se conheceu ontem, ou a vida inteira.
Já nem consigo lembrar como era ser eu, antes de você aparecer me fazendo explicar coisas banais, como se você fosse uma criança de cinco anos.

Não consigo, ou não gosto de lembrar, quando eu não não tinha com quem dividir meus filmes europeus duvidosos.
Não sabia explicar como sabia cantar aquela música do consoloni, em inglês, perfeitamente, e rir ouvindo os diálogos de two and half man, mesmo sem olhar pra tv, mesmo sem falar inglês.

Porra, como é doído lembrar das nossas tretas. Não foram poucas, nem bobas. Coisa de gente grande.

Mas, também, não posso deixar de assumir que a gente tá engatinhando ainda. Afinal, a gente é parça. Assumimos compromisso com o Joãozinho, e não tenho dúvida que você nunca vai me deixar na mão.

Um dia, eu recitei ‘filho unico' do Cazuza e você disse : sim.
A gente se amarra em Belchior, mas não consegue concordar com nada quando o assunto é política.

E faz uma semana que eu tô tentando botar no papel. Mas não sai. Talvez, eu não queira que saia. É tanta coisa engasgada, é tanta coisa sagrada. Que eu só posso agradecer a vida, ao universo e a tudo mais.
E permanecer em pé, pra viver o que há de vir.
Que venham os dias, as terras, e os afagos.
A gente é esse emaranhado inominável. Neologismo de raiz.

24 de março de 2017

TICKLED


dois mil e dezessete, voltei a estudar, querendo loucamente um emprego e ganhar uma graninha, mas enquanto isso não acontece, vamos levando.

Resolvi fazer um arquivo aqui, de forma descontraída dos filmes e documentários que andei lendo.

O de hoje foi TICKLED, um documentário sobre um 'campeonato de COCEGAS', sim, cócegas.
Tudo começa como pauta de uma matéria bizarra de um jornalista que não fazia ideia do que encontraria pela frente.

Eles descobrem um jogo de poder e dominação, que envolve muito dinheiro e manipulação no submundo das gravações. Tem ameaça de morte, prisão, assédio e processos legais contra os jornalistas.

Vale a pena ver, dá pra ver no Netflix!

15 de julho de 2016

pra onde eu devo ir?

Pra onde eu devo ir?
Pra onde eu devo ir ou voltar?


eu voltei.
estou voltando. tentando.
eu que já não era mais eu, eu que preciso me encontrar.
eu voltei a escutar as velhas musicas, a pesquisar novos sons, eu que voltei a ver filmes, e pintar a unha.
eu voltei.

o coração tá em pedaços.
tá machucado, pesado.
mas, vai passar.
e escrever, ajuda.

ajuda a superar, a botar as ideias e sentimentos no papel, para fora.
cuspir as mágoas, chorar as lágrimas doídas, e gritar o ódio, ajuda.

eu não vou mais ficar calada.
eu não quero compaixão.
eu quero viver.

eu quero voltar para mim.
eu me quero de volta.

por mim, por meu filho, por mim.
eu mereço a paz.

e a paz de estar em paz com Deus, eu já tenho.
agora, é aquietar o coração, assentar a poeira e seguir.
os dias cheios, trens lotados, a vida não para.
a vida intensamente me chamando pra viver.

eu vou, vou cuidar de mim, voltar a escrever, estudar, me cuidar. amar.
eu voltei.

obrigada filho, eu fiz primeiro por você.
e agora é por mim. e daqui em diante, vai ser sempre primeiro por mim.
<3 p="">

17 de maio de 2016

sentença de vida.

“Madama Carlota havia acertado tudo. (...) Até para atravessar a rua ela era outra pessoa. Uma pessoa grávida de futuro. Sentia em si uma esperança tão violenta como jamais sentira tamanho desespero. Se ela não era mais ela mesma, isso significava uma perda que valia por um ganho. Assim como havia sentença de morte, a cartomante lhe decretara sentença de vida. Tudo de repente era muito e muito e tão amplo que ela sentiu vontade de chorar. Mas não chorou: seus olhos faiscavam como o sol que morria.Então ao dar o passo de descida da calçada para atravessar a rua, o Destino (explosão) sussurrou veloz e guloso: é agora, é já, chegou minha vez! E enorme como um transatlântico o Mercedes amarelo pegou-a (...)” 
A HORA DA ESTRELA , LISPECTOR, CLARICE.



Uma pagina em branco.
O fone no ouvido, um disco ao fundo.
Não, eu ainda não posso ser eu, não em plenitude.

Esse tempo não é meu, eu vendi meu tempo, minha cabeça, meu braço, meus dedos, e tudo está a trabalho de quem me paga no final do mês. E paga mal.

É, faz tempo, faz tempo que eu não escrevo, faz tempo que não me arrisco, acho que a gente acaba perdendo o jeito, as palavras somem.

A hora não passa e eu continuo esperando.
Um telefonema, uma palavra amiga, um aceite de desculpas.

Sim porque, novamente eu errei.
Na verdade, não. Não errei.
Mas exagerei.
Eu sempre exagero.

Larará larará, eu preciso emudecer. Eu preciso amaducer, eu preciso esquecer.
Me perdoar, e me amar, eu preciso decidir me amar, e me encontrar.
Emudecer, amadurecer, crescer, crer, amar, chorar, pegar e pagar.
Pagar pra ver, e não temer.

Não me apagando ao passado. Ou decidir ficar.
Não temer, crer, crescer, vai ficar tudo bem.

A cartomante assim como em a hora da estrela previu, que vai ficar tudo bem.
Já posso sair da cama, ela me disse que você me ama.

Assim como em a hora da estrela, eu macabeia saio de casa, vai ficar tudo bem, você me ama, não temer, crer, crescer, vai ficar tudo bem, ela disse, a cartomante previu.

A cartomante previu, me deu sentença de vida.

Vai ficar tudo bem.


Sentença de vida. 

29 de abril de 2015

quatro anos

O Facebook lançou recentemente um aplicativo que nos mostra postagens realizadas neste dia em outros anos.
cheguei em 2011.

voltei a 2011. e 2011 foi um ano ruim. foi um ano de amor e dessabor.
eu me apaixonei perdidamente, e me perdi inteiramente nessa paixão, nesse devaneio que foi esse quase amor.
demorou pra passar.
eu chorei , lamentei, tentei fugir, mas o processo foi realmente lento e doloroso.

hoje quatro anos depois, lendo tudo que escrevi aqui no blog, e vendo as postagens no Facebook, eu lamento, lamento não ter chorado mais. lamento não ter bebido mais, sofrido mais.

tenho pra mim que quanto mais a gente sofre, mais rápido a gente cicatriza.
ah, essas cicatrizes de quatro anos atrás, são tão latentes quanto a cicatriz de quatro meses atrás , quando ganhei o João Pedro.

hoje, quatro anos depois, eu tenho planos. planos que eu não tinha. quatro anos depois, eu permaneço intacta. permaneço em pé.  viva.

quatro anos depois, e sonhos que morreram, outros nasceram.

são pouco mais que sete da noite, João Pedro dorme calmamente , e eu escrevo.
escrevo.
não sinto. apenas teclo.
esses dias, esses últimos dias que passam sem nada me envolva.
eu que vou vivendo através de outro.
eu que vivo exclusivamente pelo meu filho.
eu que não vejo, nem desejo, nem me interesso por nada além do João, me lembrei das marcas de quatro anos atrás e senti.

senti dor. senti saudades, e senti os olhos marejados.

20 de novembro de 2014

balão vermelho

dias leves.
eu acreditava que seriam leves.
mas não.

eu só consigo me concentrar nas falhas.
nas minhas, nas nossas e  no forte cheiro de xixi de cachorro na cozinha.
na louça da última semana, no fogão engordurado , nos armários empoeirados, nas roupas sujas, nos meus livros pelo chão .

desordem.
é uma desordem de ideias e sentimentos. eu não consigo achar calcinha limpa, tampouco solução.
eu tomo um banho quente, um banho quente , em um dia quente, eu nem mesmo consigo chorar.
eu só consigo sentir raiva .
raiva de mim, raiva do mundo, raiva da falta .

da falta do dinheiro, da falta de tempo, da falta.
e eu sinto, sinto falta de mim.
sinto falta de clareza, pra pensar.
sinto falta do espaço, sinto falta de sentir .

sinto que o João se mexe mais, quando eu me desligo, me irrito e perco nossa conexão.
e nos últimos dias, tem sido constante .
ele se mexe mais e mais forte, e se faz mais presente pra me lembrar que eu preciso ser forte, e não desistir.
pra me lembrar que por mais que doa, valerá a pena.
pra me lembrar afinal de que ele está lá .
está aqui.

aqui, precisando ser alimentado com luz, com amor, com sentimentos bons.
e é quando eu paro e lamento.
lamento não sentir nada de bom.
eu só sinto raiva, e falta.

falta das roupas que me caibam, do dinheiro, das pessoas, e da clareza.

dez horas por dia, cinco dias na semana, quatro semanas no mês, nove meses em um ano.
um ano sem ar.
um ano cinza. um ano de dias que deveriam ser mais felizes, mais alegres, mais leves.
um ano de trabalho.

escrevi outro dia que ser mãe é solitário.
e é. mas viver também é.
ser mãe pesa. alimentar o joão pesa.
pesa não poder dar mais amor, mais luz, mais força, mais atenção.

pesa não poder dar todo tempo do mundo pra você filho, pesa saber que o meu melhor, não tem bastado.
e pesa dizer que pesa.
pesa não saber ser mais leve. e não saber relevar. e ser tão intensa.
e toda aquela intensidade de que eu me orgulhava, agora como uma âncora me puxa.

João Pedro, você tem sido meu balão vermelho, enquanto todo o resto me puxa , me puxa como uma âncora.
mas você é o balão vermelho. mais forte que todo esse pesar.
obrigada.