7 de junho de 2009

A Seta e o Alvo

Paulinho Moska

Eu falo de amor à vida,


Você de medo da morte.


Eu falo da força do acaso


E você de azar ou sorte.



Eu ando num labirinto


E você numa estrada em linha reta.


Te chamo pra festa,


Mas você só quer atingir sua meta.


Sua meta é a seta no alvo,


Mas o alvo, na certa, não te espera.



Eu olho pro infinito


E você de óculos escuros.


Eu digo: "Te amo!"


E você só acredita quando eu juro.




Eu lanço minha alma no espaço,


Você pisa os pés na terra.


Eu experimento o futuro


E você só lamenta não ser o que era.



E o que era?


Era a seta no alvo,


Mas o alvo, na certa, não te espera.



Eu grito por liberdade,


Você deixa a porta se fechar.


Eu quero saber a verdade


E você se preocupa em não se machucar.



Eu corro todos os riscos,


Você diz que não tem mais vontade.


Eu me ofereço inteiro


E você se satisfaz com metade.


É a meta de uma seta no alvo,


Mas o alvo, na certa não te espera!



Então me diz qual é a graça


De já saber o fim da estrada,


Quando se parte rumo ao nada?


Sempre a meta de uma seta no alvo,


Mas o alvo, na certa, não te espera.



Então me diz qual é a graça


De já saber o fim da estrada,


Quando se parte rumo ao nada?


Um Dia de Música

Um domingo cinzento, cheio de lembranças dolorosas e feridas abertas.Um dia frio , um dia dáqueles que Djavan diz ser bom ler um livro, um dia que com as mãos frias eu digo coisas que daqui algum tempo hei de arrepender- me.Um dia que as cores, ou a falta delas me ascendem tudo de bom.Um dia frio cheio de más recordações, um dia frio como outro há muito vivido, um dia que me faz querer voltar.Um dia que meu time joga, que eu leio livros, que me alimento de música.Um dia cinzento, um dia muito bonito.
Um dia que o que me levanta é a melodia!
Um dia de músíca, um dia de alegria!

4 de junho de 2009

Nada Além - Frejat

Você não quer ver nada além do seu umbigo

E eu quero ver o que há depois do perigo

Você acha que ninguém sofre mais do que você

Talvez porque não saiba ao certo o que é sofrer

Ando pelas ruas cheirando a fumaça dos motores

Enquanto você fantasia suas dores de amores



Você não quer ver nada além

Que ninguém ensina nada a ninguém

Você não quer ver nada além

Que ninguém ensina nada a ninguém



Você não quer ver nada além do seu mundinho

E eu prefiro escrever meu próprio caminho

Você acha que ninguém sofre mais do que você

Talvez porque não saiba ao certo o que é sofrer

Você sonha ser princesa em castelos fabulosos

Enquanto eu vago na cidade entre inocentes e criminosos


Você não quer ver nada além

Que ninguém ensina nada a ninguém

Você não quer ver nada além

Que ninguém ensina nada a ninguém



Fique com os seus bonsais, seus haicais

Sua paz, suas flores, seu jardim de inverno

Se isso é céu

Eu prefiro meu inferno




Porque você não quer ver nada além

Que ninguém ensina nada a ninguém

Você não quer ver nada além

Que ninguém ensina nada a ninguém



Momento: MIM NÃO QUER VER NADA ALÉM DO MEU UMBIGO

Quinta- Feira - 04 de junho de 2.009

Estava pensando aqui com os meus botões que eu não sei mais escrever como antes, mas nós nunca escrevemos hoje da mesma forma que escrevíamos ontem.Cheguei a essa conclusão, mas não sei ainda se acertadamente.
Minha vidinha tá menos tranquila do que eu gostaria e mais agitada do que eu posso aceitar;ultimamente não tenho entendido muitas coisas, de fato, eu sempre fui meia alienadada minha auto compreensão, mas e daí, faz mais sentido que eu não me entenda ontem e hoje sim.Não é?

O trabalho na escola tá suave, eu continuo com a idéia da UFMG na cabeça e sei lá, o pior mesmo com diria Caio F. é continuar sem fé nehuma, concorso com ele, não há nada pior!

Tô de saco cheio de ter 17 anos, tô de saco cheio de ser politicamente correta, tô de saco cheio de não fazer tudo certo, tô de saco cheio de não ser o que as pessoas esperam, e principalmente, tô de saco cheio de querer ser o que as pessoas espera.
Não, eu não tô revoltada, nem sou a Miss Rebelde da vez, acordo cedo, durmo cedo, trabalhoi, estudo, a vida me consumindo como se eu fosse um cigarro, quase intragável.

Queria que a vida me surpreendesse, que as pessoas me surpreendessem, que houvesse aquele 'Q' a mais , que algua coisa mudasse, fizesse diferença.Apenas as ilusões se mostraram consistentes o suficiente para surpreender-me.Cara, como isso é ruim, como é ruim essa sensação de que algo está prestes a acontecer , essa sensação de que algo está acontecendo e você tá de fora parada pateta, vendo a roda rodar.Longe de tudo, distante demais para que te alcancem, longe demais para que te ouçam , longe demais para que seu grito seja ouvido.

Tá frio, e repito que já não quero que seja sempre assim,que seja sempre assim, que seja sempre assim...
Repito assim baixinho, de mansinho, bem fininho, que eu quero deixar tudo que se foi e qeu se perdeu, que eu não quero perder, não quero mais perder tempo, não quero mais perder a vida, não quero.Não quero mais essa sensação de impotencia.

Cara, as coisas estão acontecendo lá fora,e eu tô aqui olhando da janela, escondida atras da cortina para que a vida não me veja, ali, no cantinho, pelas sombras, com aquela vontade louca de sair para rua, de sair pra chuva, de cair no mundo, de viajar sem rumo, de gritar bem alto, de cantar na calçada e dormir no banco, de tocar baixinho, de ler infinito, chorar sem vergonha, cair pra ter o prazer de levantar.

Tô cansada, preocupada com sei lá o que,esperando alguém que não vai chegar, que talvez não exista, ou que talvez exista mas que vai passar, me impressionar, dai eu vou olhar, gostar , me empolgar.
Ele vai passar, não vai me olhar, não vai me notar.
Eu vou gritar, me revoltar, chorar,tudo isso num minuto bem lá dentro.Por fora eu vou sorrir, fingir, mentir que tô bem , tô legal.Sou forte, posso suportar.
E lá vai-ser-á meu amado, o cara da fila do pão, o cara que eu vou amar, o que cara que nem poderá adivinhar.

É por ele que eu juro que é bonito viver, é por ele que eu saio, é nele que eu vou acreditar, é ele que eu vou amar
Sou eu que vou deixa-lo ir.Pq é sempre assim , eu faço tudo certo.O cara gosta das garotas más e erradas.
Eu faço tudo errado, o cara não me vê.
Os caras nunca me veem!

Parece que eu tô depressiva
[[emo/]
Pode ser que eu esteja, pode ser que eu seja, pode ser tpm, pode ser mau-humor, pode ser loucura,doideira, droga alcool tabaco maconha, pode ser a Coca, a fome, o frio.
Pode ser tudo isso, pode ser nada disso.

O legal é que as possibilidades são infinitas, infinita assim como parece ser essas minhas teses malucas.
Quais teses?Não tô a fim de compartilhar isso.Compartilhar?Compartilhar, como, se eu não mostro meu blog pra ninguém?

É, que eu acredito que um dia serei madura o suficiente pra encarar tudo que já se foi, tudo que é passado, tudo que é pó.
Acredito que um dia eu não vou mais me preocupar com com besteiras superficiais, que eu não vou ter medo dos mortos.Um dia eu vou aprender que as pessoas, essa que vivem, e vivem por perto , essas , um dia eu vou aprender que elas sim devem me causar medo.~~

[Complexa]



"Nem é você que eu espero, já te falei. Aquele um vai entrar um dia talvez por essa mesma porta, sem avisar. Diferente dessa gente toda vestida de preto, com cabelo arrepiadinho. Se quiser eu piro, e imagino ele de capa de gabardine, chapéu molhado, barba de dois dias, cigarro no canto da boca, bem noir. Mas isso é filme, ele não. Ele é de um jeito que ainda não sei, porque nem vi. Vai olhar direto para mim. Ele vai sentar na minha mesa, me olhar no olho, pegar na minha mão, encostar seu joelho quente na minha coxa fria e dizer: vem comigo. É por ele que eu venho aqui, boy, quase toda noite. Não por você, por outros ecmo você. Pra ele, me guardo. Ria de mim, mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro o verdadeiro amor. Cuidado, comigo: um dia encontro."

(Dama da Noite - Caio Fernando Abreu)

2 de junho de 2009

Elas Cantam Roberto

Eu assisti.Não tudo , mas assisti.Tonta, chorei, sorri, ouvi,aprendi, que o que é bom não se acaba assim tão rápido, assim tão fácil.Que o que é bom perdura, dura.
Sorri ao lembrar de quando criança ,lembrar dos hérois da alegria, sorri ao pensar que tudo aquilo que é bom não se vai, se acumula, bem aqui dentro, acumulamos o que de melhor há no mundo.O que de pior também está aqui encravado no que somos.Temos que somente saber o que queremos e usar o que temos.

Mas voltando ao assunto, o show foi ótimo, foi lindo!Amei.
Vai ai o que melhor foi, pessoalmente falando claro.

Marilia Pêra -
Emocionante, cara o que foi aquela interpretação?!!!Já ouvi várias pessoas dizendo que ela é ótima, mas que não foi tudo isso a sua apresentação.Eu amo Mpb, já vi muitas e fantásticas interpretações das músicas do rei, mas essa, dessa vez, com essa Marilia, foi a melhor.
Top 1 (Clima hoje é dia de C.Q.C)

120... 150... 200 Km Por Hora

Roberto carlos


As coisas estão passando mais depressa
O ponteiro marca 120
O tempo diminui
As árvores passam como vultos
A vida passa
O tempo passa
Estou a 130 as imagens se confundem
Estou fugindo de mim mesmo
Fugindo do Passado
Do meu mundo assombrado de tristeza de incerteza
Estou a 140
Fugindo de você

Eu vou
Voando pela vida
Sem querer chegar
Nada vai mudar meu rumo
Nem me fazer voltar
Vivo fugindo
Sem destino algum
Sigo caminhos que me levam
A lugar nenhum

O ponteiro marca 150
Tudo passa ainda mais depressa
O amor, a felicidade
O vento afasta uma lágrima
Que começca a rolar no meu rosto
Estou a 160
Vou acender os faróis
Já é noite
Agora são as luzes que passam por mim
Sinto um vazio imenso
Estou só na escuridão
A 180
Estou fugindo de você

Eu vou
Sem saber pra onde
Nem quando vou parar
Não, não deixo marcas no caminho
Pra não saber voltar
Às vezes, sinto que o mundo
Se esqueceu de mim
Não, não sei por quanto tempo ainda
Eu vou viver assim

O ponteiro agora marca 190
Por um momento tive a sensação
De Ter você ao meu lado
O banco está vazio
Estou só
A 200 por hora
Vou para de pensar em você
Pra prestar atenção na estrada

Vou sem saber pra onde
Nem quando vou parar
Não, não deixo marcas no caminho pra não saber voltar
Às vezes
Às vezes sinto que o mundo
Se esqueceu de mim
Não, não sei por quanto tempo ainda
Eu vou viver assim

Eu vou voando pela vida
Sem querer chegar
Nada, nada vai mudar meu rumo
Nem me fazer voltar





Top 2 - Ana Carolina, Força estranha
Não é pq eu acho ela simplesmente incrivel, mas foi Lindo, ela, a música , a interpretação.
Amo!(L)

Força Estranha
Eu vi um menino correndo
Eu vi o tempo
Brincando ao redor do caminho daquele menino
Eu pus os meus pés no riacho
E acho que nunca os tirei
O sol ainda brilha na estrada
E eu nunca passei
Eu vi a mulher preparando
Outra pessoa
O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga
A vida é amiga da arte
É a parte que o sol me ensinou
O sol que atravessa essa estrada
Que nunca passou

Por isso uma força me leva a cantar
Por isso essa força estranha no ar
Por isso é que eu canto, não posso parar
Por isso essa voz tamanha

Eu vi muitos cabelos brancos
Na fronte do artista
O tempo não pára, e no entanto ele nunca envelhece
Aquele que conhece o jogo
Do fogo das coisas que são
É o sol, é o tempo, é a estrada
É o pé e é o chão

Eu vi muitos homens brigando
Ouvi seus gritos
Estive no fundo de cada vontade encoberta
E a coisa mais certa de todas as coisas
Não vale um caminho sob o sol
É o sol sobre a estrada
É o sol sobre a estrada, é o sol

Por isso a força me leva a cantar
Por isso essa força estranha no ar
Por isso é que eu canto, não posso parar
Por isso essa voz, essa voz tamanha

Por isso uma força me leva a cantar
Por isso essa força estranha no ar
Por isso é que eu canto, não posso parar
Por isso essa voz tamanha






Cansei de tops!
Eita menina sem paciencia , os videos que eu mais gostei:




A Menina e o Poeta - Roberto Carlos


A Menina e o poeta
Roberto Carlos



Virgem, menina morena,
Nos cabelos uma trança
No rosto um jeito criança
Na voz um canto mulher
Virgem, menina morena,
Nos olhos toda a primavera
No corpo uma longa espera
Coração banhado em fé

A tarde corre pra noite
A lua desperta sorrindo
A menina na janela
Botão em flor se abrindo

Nasceu o primeiro desejo
Conhecer o primeiro amor
Na história de um poeta
A menina acreditou

Na história de um poeta
A menina acreditou

Mas o poeta foi um dia
E até hoje não voltou
Ninguém sabe o caminho
Que o poeta levou

O vento que foi com ele
Um dia por lá voltou
Mas só que voltou sozinho
E a menina chorou

Na história do poeta
A menina acreditou
E dos olhos da menina
Uma lágrima rolou

E dos olhos da menina
Uma lágrima rolou

Dama da Noite - Caio Fernando Abreu

Como se eu estivesse por fora do movimento da vida. A vida rolando por aí feito roda-gigante, com todo mundo dentro, e eu aqui parada, pateta, sentada no bar. Sem fazer nada, como se tivesse desaprendido a linguagem dos outros. A linguagem que eles usam para se comunicar quando rodam assim e assim por diante nessa roda-gigante. Você tem um passe para a roda-gigante, uma senha, um código, sei lá. Você fala qualquer coisa tipo bá, por exemplo, então o cara deixa você entrar, sentar e rodar junto com os outros. Mas eu fico sempre do lado de fora. Aqui parada, sem saber a palavra certa, sem conseguir adivinhar. Olhando de fora, a cara cheia, louca de vontade de estar lá, rodando junto com eles nessa roda idiota - tá me entendendo, garotão?
Nada, você não entende nada. Dama da noite. todos me chamam e nem sabem que durmo o dia inteiro. Não suporto: luz, também nunca tenho nada pra fazer - o quê? Umas rendas aí. É, macetes. Não dou detalhe, adianta insistir. Mutreta, trambique, muamba. Já falei: não adianta insistir, boy . Aprendi que, se eu der detalhe, você vai sacar que tenho grana e se eu tenho grana você vai querer foder comigo só porque eu tenho grana. E acontece que eu ainda sou babaca, pateta e ridícula o suficiente para estar procurando O verdadeiro amor. Pára de rir, senão te jogo já este copo na cara. Pago o copo, a bebida. Pago o estrago e até o bar, se ficar a fim de quebrar tudo. Se eu tô tesuda e você anda duro e eu precisar de cacete, compro o teu, pago o teu. Quanto custa? Me diz que eu pago. Pago bebida, comida, dormida. E pago foda também, se for preciso.
Pego, claro que eu pego. Pego sim, pego depois. É grande? Gosto de grande, bem grosso. Agora não. Agora quercì falar na roda. Essa roda, você não vê, garotão? Está por aí. rodando aqui mesmo. Olha em volta, cara. Bem do teu lado. Naquela mina ali, de preto, a de cabelo arrepiadinho. Tá bom, eu sei: pelo menos dois terços do bar veste preto e tem cabelo arrepiadinho, inclusive nós. Sabe que, se há uns dei anos eu pensasse em mim agora aqui sentada com você, eu não ia acreditar? Preto absorve vibração negativa, eu pensava. O contrário de branco, branco reflete. Mas acho que essa moçada tá mais a fim mesmo é de absorver, chupar até o fundo do mal - hein? Depois, até posso. Tem problema, não. Mas não é disso que estou falando agora, meu bem.
Você não gosta? Ah, não me diga, garotinho. Mas se eu pago a bebida, eu digo o que eu quiser, entendeu? Eu digo meu-bem assim desse jeito, do jeito que eu bem entender. Digo e repito: meu-bem-meu-bem-meu-bem. Pego no seu queixo a hora que eu quiser também, enquanto digo e repito e redigo meu-bem-meu-bem. Queixo furadinho, hein? Já observei que homem de queixo furadinho gosta mesmo é de dar o rabo. Você já deu o seu? Pelo amor de Deus, não me venha com aquela história tipo sabe, uma noite, na casa de um pessoal em Boiçucanga, tive que dormir na mesma cama com um carinha que.
Todo machinho da sua idade tem loucura por dar o rabo, meu bem. Ascendente Câncer, eu sei: cara de lua, bunda gordinha e cu aceso. Não é vergonha nenhuma: tá nos astros, boy. Ou então é veado mesmo, e tudo bem.
Levanta não, te pago outra vodca, quer? Só pra deixar eu falar mais na roda. Você é muito garoto, não entende dessas coisas. Deixa a vida te lavrar a cara, antes, então a gente. Bicho, esquisito: eu ia dizer alma, sabia? Quer que eu diga? Tá bom, se você faz tanta questão, posso dizer. Será que ainda consigo, como é que era mesmo? Assim: deixa a vida te lavrar a alma, antes, então a gente conversa. Deixa você passar dos trinta, trinta e cinco, ir chegando nos quarenta e não casar e nem ter esses monstros que eles chamam de filhos, casa própria nem porra nenhuma. Acordar no meio da tarde, de ressaca, olhar sua cara arrebentada no espelho. Sozinho em casa, sozinho na cidade, sozinho no mundo. Vai doer tanto, menino. Ai como eu queria tanto agora ter uma alma portuguesa para te aconchegar ao meu seio e te poupar essas futuras dores dilaceradas. Como queria tanto saber poder te avisar: vai pelo caminho da esquerda, boy, que pelo da direita tem lobo mau e solidão medonha.
A roda? Não sei se é você que escolhe, não. Olha bem pra mim - tenho cara de quem escolheu alguma coisa na vida? Quando dei por mim, todo mundo já tinha decorado a tal palavrinha-chave e tava a mil, seu lugarzinho seguro, rodando na roda. Menos eu, menos eu. Quem roda na roda fica contente. Quem não roda se fode. Que nem eu, você acha que eu pareço muito fodida? Um pouco eu sei que sim, mas fala a verdade: muito? Falso, eu tenho uns amigos, sim. Fodidos que nem eu. Prefiro não andar com eles, me fazem mal. Gente da minha idade, mesmo tipo de. Ia dizer problema, puro hábito: não tem problema. Você sabe, um saco. Que nem espelho: eu olho pra cara fodida deles e tá lá escrita escarrada a minha própria cara fodida também, igualzinha à cara deles. Alguns rodam na roda, mas rodam fodidamente. Não rodam que nem você. Você é tão inocente, tão idiotinha com essa camisinha Mr. Wonderful. Inocente porque nem sabe que é inocente. Nem eles, meus amigos fodidos, sabem que não são mais. Tem umas coisas que a gente vai deixando, vai deixando, vai deixando de ser e nem percebe. Quando viu, babau, já não é mais. Mocidade é isso aí, sabia? Sabe nada: você roda na roda também, quer uma prova? Todo esse pessoal da preto e cabelo arrepiadinho sorri pra você porque você é igual a eles. Se pintar uma festa, te dão um toque, mesmo sem te conhecer. Isso é rodar na roda, meu bem.
Pra mim, não. Nenhum sorriso. Cumplicidade zero. Eu não sou igual a eles, eles sabem disso. Dama da noite, eles falam, eu sei. Quando não falam coisa mais escrota, porque dama da noite é até bonito, eu acho. Aquela flor de cheiro enjoativo que só cheira de noite, sabe qual? Sabe porra: você nasceu dentro de um apartamento, vendo tevê.
Não sabe nada. fora essas coisas de vídeo, performance, high-tech, punk, dark. computador, heavy-metal e o caralho. Sabia que eu até vezenquando tenho mais pena de você e desses arrepiadinhos de preto do que de mim e daqueles meus amigos fodidos? A gente teve uma hora que parecia que ia dar certo. Ia dar, ia dar. sabe quando vai dar? Pra vocês, nem isso. A gente teve a ilusão, mas vocês chegaram depois que mataram a ilusão da gente.
Tava tudo morto quando você nasceu, boy, e eu já era puta velha. Então eu tenho pena. Acho que sou melhor, sei porque peguei a coisa viva. Tá bom, desculpa, gatinho. Melhor, melhor não. Eu tive mais sorte, foi isso? Eu cheguei antes. E até me pergunto se não é sorte também estar do lado de fora dessa roda besta que roda sem fim, sem mim. No fundo, tenho nojo dela - você?
Você não viu nada, você nem viu o amor. Que idade você tem, vinte? Tem cara de doze. Já nasceu de camisinha em punho, morrendo de medo de pegar Aids. Vírus que mata. neguinho, vírus do amor. Deu a bundinha, comeu cuzinho. pronto: paranóia total. Semana seguinte, nasce uma espinha na cara e salve-se quem puder: baixou Emílio Ribas. Caganeira, tosse seca, gânglios generalizados.
Õ boy, que grande merda fizeram com a tua cabecinha, hein? Você nem beija na boca sem morrer de cagaço. Transmite pela saliva, você leu em algum lugar. Você nem passa a mão em peito molhado sem ficar de cu na mão. Transmite pelo suor, você leu em algum lugar. Supondo que você lê, claro. Conta pra tia: você lê, meu bem? Nada, você não lê nada. Você vê pela tevê, eu sei. Mas na tevê também dá, o tempo todo: amor mata amor mata amor mata. Pega até de ficar do lado, beber do mesmo copo. Já pensou se eu tivesse? Eu, que já dei pra meia cidade e ainda por cima adoro veado.
Eu sou a dama da noite que vai te contaminar com seu perfume venenoso e mortal. Eu sou a flor carnívora e noturna que vai te entontecer e te arrastar para o fundo de seu jardim pestilento. Eu sou a dama maldita que, sem nenhuma piedade, vai te poluir com todos os líquidos, contaminar teu sangue com todos os vírus. Cuidado comigo: eu sou a dama que mata, boy. Já chupou buceta de mulher? Claro que não, eu sei: pode matar. Nem caralho de homem: pode matar. Já sentiu aquele cheiro molhado que as pessoas têm nas virilhas quando tiram a roupa? Está escrito na sua cara, tudo que você não viu nem fez está escrito nessa sua cara que já nasceu de máscara pregada. Você já nasceu proibido de tocar no corpo do outro. Punheta pode, eu sei, mas essa sede de outro corpo é que nos deixa loucos e vai matando a gente aos pouquinhos. Você não conhece esse gosto que é o gosto que faz com que a gente fique fora da roda que roda e roda e que se foda rodando sem parar, porque o rodar dela é o rodar de quem consegue fingir que não viu o que viu. O boy, esse mundo sujo todo pesando em cima de você, muito mais do que de mim e eu ainda nem comecei a falar na morte...
Já viu gente morta, boy? É feio, boy. A morte é muito feia, muito suja, muito triste. Queria eu tanto ser assim delicada e poderosa, para te conceder a vida eterna. Queria ser uma dama nobre e rica para te encerrar na torre do meu castelo e poupar você desse encontro inevitável com a morte. Cara a cara com ela, você já esteve? Eu, sim, tantas vezes. Eu sou curtida, meu bem. A gente lê na sua cara que nunca. Esse furinho de veado no queixo, esse olhinho verde me olhando assim que nem eu fosse a Isabella Rossellini levando porrada e gostando e pedindo eat me eat me, escrota e deslumbrante. Essa tontura que você está sentindo não é porre, não. É vertigem do pecado, meu bem, tontura do veneno. O que que você vai contar amanhã na escola, hein? Sim, porque vocé ainda deve ir à escola, de lancheira e tudo. Já sei: conheci uma mina meio coroa, porra-louca demais. Cretino, cretino, pobre anjo cretino do fim de todas as coisas. Esse caralhinho gostoso aí, escondido no meio das asas, é só isso que você tem por enquanto. Um caralhinho gostoso, sem marca nenhuma. Todo rosadinho. E burro. Porque nem brochar você deve ter brochado ainda. Acorda de pau duro, uma tábua, tem tesão por tudo, até por fechadura. Quantas por dia? Muito bem, parabéns: você tá na idade. Mas anota aí pro teu futuro cair na real: essa sede, ninguém mata. Sexo é na cabeça: você não consegue nunca. Sexo é só na imaginação. Você goza com aquilo que imagina que te dá o gozo, não com uma pessoa real, entendeu? Você goza sempre com o que tá na sua cabeça, não com quem tá na cama. Sexo é mentira, sexo é loucura, sexo é sozinho, boy.
Eu, cansei. Já não estou mais na idade. Quantos? Ah, você não vai acreditar, esquece. O que importa é que você entra por um ouvido meu e sai pelo outro, sabia? Você não fica. você não marca. Eu sei que fico em você, eu sei que marco você. Marco fundo. Eu sei que, daqui a um tempo, quando você estiver rodando na roda, vai lembrar que, uma noite. sentou ao lado de uma mina louca que te disse coisas, que te falou no sexo, na solidão, na morte. Feia, tão feia a morte, boy. A pessoa fica meio verde, sabe? Da cor quase assim desse molho de espinafre frio. Mais clarinho um pouco, mas isso nem é o pior. Tem uma coisa que já não está mais ali, isso é o mais triste. Você olha, olha e olha e o corpo fica assim que nem uma cadeira.
Uma mesa, um cinzeiro, um prato vazio. Uma coisa sem nada dentro. Que nem casca de amendoim jogada na areia, é assim que a gente fica quando morre, viu, boy? E você, já descobriu que um dia também vai morrer?
Dou, claro. Ficou nervosinho, quer cigarro? Mas nem fumar você fuma, o quê? Compreendo, compreendo sim, eu compreendo sempre, sou uma mulher muito compreensiva. Sou tão maravilhosamente compreensiva e tudo que, se levar você pra minha cama agora e amanhã de manhã você tiver me roubado toda a grana, não pense que vou achar você um filho da puta. Não é o máximo da compreensão? Eu vou achar que você tá na sua, um garotinho roubando uma mulher meio pirada, meio coroa, que mexeu com sua cabecinha de anjo cretino desse nojento fim de todas as coisas. Tá tudo bem, é assim que as coisas são: ca-pi-ta-lis-tas, em letras góticas de neon. Mulher pirada e meio coroa que nem eu tem mais é que ser roubada por um garotinho ïmbecil e tesudinho como você. Só pra deixar de ser burra caindo outra vez nessa armadilha de sexo.
Fissura, estou ficando tonta. Essa roda girando girando sem parar. Olha bem: quem roda nela? As mocinhas que querem casar, os mocinhos a fim de grana pra comprar um carro, os executivozinhos a fim de poder e dólares, os casais de saco cheio um do outro, mas segurando umas. Estar fora da roda é não segurar nenhuma, não querer nada. Feito eu: não seguro picas, não quero ninguém. Nem você. Quero não, boy. Se eu quiser, posso ter. Afinal, trata-se apenas de um cheque a menos no talão, mais barato que um par de sapatos. Mas eu quero mais é aquilo que não posso comprar. Nem é você que eu espero, já te falei. Aquele um vai entrar um dia talvez por essa mesma porta, sem avisar. Diferente dessa gente toda vestida de preto, com cabelo arrepiadinho. Se quiser eu piro, e imagino ele de capa de gabardine, chapéu molhado, barba de dois dias, cigarro no canto da boca, bem noir. Mas isso é filme, ele não. Ele é de um jeito que ainda não sei, porque nem vi. Vai olhar direto para mim. Ele vai sentar na minha mesa, me olhar no olho, pegar na minha mão, encostar seu joelho quente na minha coxa fria e dizer: vem comigo. É por ele que eu venho aqui, boy, quase toda noite. Não por você, por outros ecmo você. Pra ele, me guardo. Ria de mim, mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro o verdadeiro amor. Cuidado, comigo: um dia encontro.
Só por ele, por esse que ainda não veio, te deixo essa grana agora, precisa troco não, pego a minha bolsa e dou a fora já. Está quase amanhecendo, boy. As damas da noite recolhem seu perfume com a luz do dia. Na sombra, sozinhas. envenenam a si próprias com loucas fantasias. Divida essa sua juventude estúpida com a gatinha ali do lado, meu bem. Eu vou embora sozinha. Eu tenho um sonho, eu tenho um destino, e se bater o carro e arrebentar a cara toda saindo daqui. continua tudo certo. Fora da roda, montada na minha loucura. Parada pateta ridícula porra-louca solitária venenosa. Pós-tudo, sabe como? Darkérrima, modernésima, puro simulacro.
Dá minha jaqueta, boy, que faz um puta frio lá fora e quando chega essa hora da noite eu me desencanto. Viro outra vez aquilo que sou todo dia, fechada sozinha perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada.