28 de junho de 2012

ensaio


 
eu ensaio o amor . 
pra não acabar , pra torna-se pra sempre , pra nunca sair de cena , eu faço cena , choro faço drama , minto um compromisso , ensaiando o amar . 

eu me rendo


 
a tarde fresca , as janelas abertas , a cortina balançando com o vento .
a cama repleta de folhas e livros , o fone alto , e você cantarola canções de amor .
 

 
e assim você passa a tarde , a vida, escrevendo palavras soltas , sem que nada necessite de sentido , você descalça , sente o chão gelado , sente o sol no rosto , vê a rua deserta e o trem passado ao fundo do quadro , do quarto.
 
a vida como uma pintura abstrata . 
nada definido . 
nada 
tudo . 
sem perdas .
sem vitórias , só o aperto no peito e a vontade de viver , de que o tempo não passe , de que o relógio desacelere .
 
e ele desacelera , a melodia lenta , as palavras , os passos , compassos . 
o ritmo da chuva , dos pingos , e do raio de sol .
o ritmo das batidas do seu coração .
 
e ele bate lento , você respira lentamente , sua pulsação é quase imperceptível e você então não se aguenta em si e ri .
 
e erra o tempo do verbo e esquece a concordancia .
 
e o sotaque mais forte , e a bandeira branca . 
eu me rendo .
me rendo à vida . 

pra sempre agora


o que eu quero .
meus planos ?

terminar . 

ter a coragem de botar um fim .
ter a coragem de enxergar o fim. 

Porque eu tenho medo do fim , tenho medo do acabar . 

tenho medo do escuro e da cidade vazia .
tenho medo do silêncio que me invade quanto te olho .
 
sou sem ponto final . 
não ouso ser . 
quero somente estar . 
não quero ser . 
não quero o definitivo . 

eu quero o relativo .
eu quero o quase , não quero o fim .
 
eu quero pra sempre o agora . 

26 de junho de 2012

fim .


eu diminuo as possibilidades de magoas .
eu me tranco , me calo , me omito .
 
eu minto .
 
fecho os olhos , o coração e respiro fundo , puxando todo ar que meus pulmões conseguem suportar , toda dor que consigo suportar .
 
esgotar .
 
eu falo , eu escrevo . 
não escuto , não leio . 
eu vivo pra fora . 
esgotou-se  a esperança, a boa vontade , a fé no amor .
 

você confessa seu amor a mim , 
cheio de esperança de boa vontade . 
eu te escuto até o fim ,
e digo que é o fim  .

BlueBird- AZULIVRE




você me deu seu coração , que transformamos juntos em asas , asas para mim , asas para nós .
você me ensinou a voar . 
você me criou asas , você me ensionou a usa-las .
você me ensinou a voar , você fez voar . 
voou comigo .
salto no escuro , sem medo . 
sem medo de perder o chão . 
sem medo dos rápidos e seguidos rodopios , em suas danças e performaces .
por que eu desenhei uma gaiola , e você um pássaro . 
porque unimos um passaro azul , dentro da gaiola aberta . 
ele fica por que quer , eu não fecho a gaiola , porque o quero livre , azul , livre , livre azul
.





azulivre .

14 de junho de 2012

amor é outra coisa .

preciso confessar que é doce o seu pesar .

não sinto saudade , não sinto rancor .
só indeferença .
dessabor talvez. só um vazio .

uma marca no dedo , um espaço no coração .
um espaço guardado para a felicidade .

amor .
se eu te amei ? se fomos felizes .
meu bem , amor é outra coisa .

impropérios sérios


o céu cinza , as nuvens carregadas , aquela garoa fina , típica .
 
reunião de pais e mestres , eles não podiam ter escolhido dia melhor ?
 
eu bebo sim . 
demais . 
eu fumo sim . 
demais .
eu falo sim . 
demais . 
eu sofro sim . 
demais .
 
e é uma bebedeira cheia de culpa , e é uma tragada clichê , e é um falar rápido , aos tropeços , e é um sofreguidão sem fim , sem culpa , cheia de lágrimas e saltos no escuro .
 
sem contar as bebedeiras incontáveis , cheias de pecado e desonras . 
sem contar os cigarros molhados , nunca fumados .
 
minhas histórias são para ser lidas por leitores saltantes de uma página a outra do primeiro capítulo ao ultimo , sem medo , sem culpa . eles me entenderão .
 
a memória me falha , um monólogo sem fim , a história sem coadjuvantes , uma história sem mocinha , sem final feliz , a história cheia de clichês romanticos , com frases de Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector estampadas na capa .
 
será , que me tornei assim como tantas outras obcecada pelo hermano junk ?
 
sozinha no quarto , conluo que enfim posso brincar , como sempre quis sozinha , brincar de me trancar num armário qualquer , coma  cabeça dentro da sacola , esperando que ninguém me encontre antes de que todo o ar se esvaia .
 
brincando de sorte/azar com a morte
 
Lendo Sandman como se não houvesse nada além de enredos coloridos e quadrinhos
 
e os dias seguiam entre boas histórias , bebidas e sexo .
 
'minha garota predileta' é assim que ele me chamava . 
'meu junk predileto', eu retribuía .
 
apesar de até  agora nenhuma substância ilegal ter sido utilizada por ele , enquanto estávamos juntos . sabíamos que aconteceria mais cedo ou mais tarde .
 
era assim que eu gostaria que ele imaginasse . 
porque sem dúvida o significado de 'meu junk favorito' pra mim era outro .
 
sabia que mais cedo ou mais tarde , esse relacionamento , essa quase relação , esses olhares recheados de cumplididade , os risos pelos cantos da boca , e os corpos se aproximando como imãs , terminariam . me destruíriam .
 
da pior forma possível .
 
ele me conta hitórias , histórias de suas mulheres que mais me parecem com seres fantásticos , brotados de cabeça de um adolescente da purbedade .
 
mas me dói quando retorno a realidade e me lembro de quem ele de fato é .
 
tudo verdade . felizmente pra ele , infelizmente pra mim .
 
tão diferentes , a realização de um sonho , me tornou-me refem dessa iminente trajédia .
 
ele se vai . ele se vai , ele se vai . 
ele faz bico e reclama atenção .
 
levanto a cabeça lentamente, inclino-me e o beijo . beijo de leve .
 
penso em palavras que ainda não dissemos .
 
conto mais uma história triste , solto mais algumas lágrimas , aperto forte a sua mão .
 
eu sei . posso ver em seus olhos , a vontade de ficar . mas ele também sabe que não vai . sabe que precisa me deixar .
 
tem barreiras que não são transponíveis . nem mesmo pra possibilidade do amor .
 
não gosto de praia . da areia entre meus dedos , do forte calor roubando meus líquidos , produzindo mais líquidos .
 
entre praia e asfalto trocamos salivas , líquidos sagrados , na dança da sedução .
 
 
 

entre as leituras obrigatória para defesa do tão suado mestrado , eu me rendo a sua música , ao som que parte de seu interior , passa por seus dados e boca , me instiga me inspira .
 
eu o amo , passa pela minha cabeça e eu logo retorno a luta marxista filosófica .
eu me entrego a cada acorde , eu me rendo a cada nota , e ele nota , me nota , me olha e aprova .
e eu volto a rimar , rimas vulgares , bobeiras .
 
eu penso em criar sentido , eu penso em sentir a sua criação .
 
ainda não consegui entender ,e lá se foram duas semanas desde que você chegou, se instalou no apartamento ao lado . na zona oeste dessa cidade sem fim , sem luxo , sem móveis , sem aliança , sem orgulho .
 
e eu me pergunto por quanto tempo , e eu me pergunto por que aqui , e eu me pergunto por que eu .
 
enfim você para de tocar , e eu finjo estudar , desviando o olhar . ele percebe , ri entre uma tragada e outra se aproxima , e senta ao meu lado , calado . esperando um olhar de aprovação . uma brecha para falar .
 
discutimos políticas, vimos um  jogo de futubol de vársea , compramos camisetas iguais , tomamos cerveja na calçada .
 
duas semanas . as mais intensas dos ultimos vinte anos .
você ri . se julga velho .
 
eu acho graça do charme , acaricío seu cabelo encaracolado, sua barba espessa  .
 
sexta-feira a noite .
o retorno pra casa é longo , cansativo .
paro naquele bar , aquele que você não conhece , aquele que nos primeiros dias me acolheu.