28 de junho de 2012

eu me rendo


 
a tarde fresca , as janelas abertas , a cortina balançando com o vento .
a cama repleta de folhas e livros , o fone alto , e você cantarola canções de amor .
 

 
e assim você passa a tarde , a vida, escrevendo palavras soltas , sem que nada necessite de sentido , você descalça , sente o chão gelado , sente o sol no rosto , vê a rua deserta e o trem passado ao fundo do quadro , do quarto.
 
a vida como uma pintura abstrata . 
nada definido . 
nada 
tudo . 
sem perdas .
sem vitórias , só o aperto no peito e a vontade de viver , de que o tempo não passe , de que o relógio desacelere .
 
e ele desacelera , a melodia lenta , as palavras , os passos , compassos . 
o ritmo da chuva , dos pingos , e do raio de sol .
o ritmo das batidas do seu coração .
 
e ele bate lento , você respira lentamente , sua pulsação é quase imperceptível e você então não se aguenta em si e ri .
 
e erra o tempo do verbo e esquece a concordancia .
 
e o sotaque mais forte , e a bandeira branca . 
eu me rendo .
me rendo à vida . 

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