25 de agosto de 2012

Silence





tudo que eu queria era estar em outro bar , outro lugar , não rimar . 
eu queria uma noite fria , eu queria  uma chuva torrencial . 
eu queria não explicar e entender sua falta de expressão . 

quase acreditei que não sentia . 
e tive medo . 

medo que nada mais me encantasse  . 

e era sexta-feira . 
e eu estava de mau humor , numa noite quente , onde eu não queria estar . 
e você . 

você não me olhou . 
você não sabe de nada , como todos os outros . 
mas eu te descobri , e te escuto em silêncio . 
no silêncio das suas músicas, te crio . 
e você . você é perfeito pra criação , sua falta de expressão, seus silêncios . 

um espaço vazio , pronto pra colorir , rabiscar , amar. 




28 de junho de 2012

e agora tudo é paz



eu pensei que ficaria na prateleira para sempre  . 
mas o dia chegou . 
e eu fui .
fui  vendida . 

e gritei ao mundo que era bom amar . 
e na fila , na espera , te encontrei . 
você me encontrou . 
e foi bom
bom enquanto durou . 

e agora é tudo tão cinza , e as pinceladas são rosas , nada muito claro , nada como descrito , e agora tudo é paz . 
e eu ainda choro , mas me sinto em paz . mas não sinto . 
sua perda , sua ausencia . 

eu me sinto , eu me reparo , eu me atrevo a dizer eu amo .
a mim . 
o eu perdido , quase esquecido . 

obrigada . por resgatar o que restou de mim.
a mim . 

e agora tudo é tão verde . 
mas eu verde diferente . um verde musgo  . 
uma clareira distante . 
uma floresta solitária . 

uma vastidão de novos sentimentos , uma eternidade com prazo de validade . 
você resgatou o melhor de mim .
 

Sem amor só a dor .


eu não tenho enredo .
eu não tenho ginga .
não tenho suingue .
 
eu não tenho sede.
eu não sinto .
eu não sinto muito , eu não sinto nada .
 
não peço perdão .
não peço carinho .
 
só peço tempestade de verão , a garoa de São Paulo ,e deixo a praia pra depois .

eu protesto


eu não sei , eu não sei , eu não sei . 
o querer sempre é perigoso . 
o não querer mais ainda . 
eu não sei o que quero , e não quero saber .
 

saber , sempre o saber .
eu tenho de saber o que sinto , o que o penso , no que falar , como falar , com quem falar .
amar .
tenho que saber o que vocês sentem , o que esperam .
 
Vocês esperam
que eu ame . que eu chore , que eu viva feliz e diga coisas de amor .
 
eu só penso em não querer .
saber , andar , amar .
e repousar , sem ideias ou palavras .
o nada .
 
o absoluto .
 
eu quero o nada , eu não quero nada além.
 
o querer . o verbo , a posse se apossa .
não há uma história , uma canção , que não queira , expressar , ensinar. amar .


mas eu não .
quero e protesto enfim 

o que é imortal não morre no final



tão bonito isso de aprender .
o aprendizado vem sempre com o riso .
com aquele aperto no peito .
 
com a voracidade de nunca saber demais . 

de sempre ter algo mais , pra aprender , pra ler , falar , olhar .
as combinações são pra sempre e o pra sempre é eterno .
o chichê do eterno aprendizado , a forma simples de dizer que o pra sempre é sempre o novo . 
ou o velho descoberto hoje .
e o hoje que nunca mais será como o hoje que já foi ontem .
e o amanhã que nunca será como ontem e assim infinitamente combinando senhas , para tornar-se eterno . e acima de tudo memorável . 
não esquecível . que é inesquecível .
 
por que o que é imortal não morre no final , já dizia a Sandy .

a esfinge que mente


ah as garrafas , as garrafas cheias , as garrafas vazias .
 
os olhos . 
a boca, a vontade aumenta , calor crescente , cessam as palavras , os movimentos tornam-se lentos, o tempo ensaia a pausa , e passa , assim lentamente , pausadamente , repetidamente .
 
e os copos na mesa , logo rolam pro chão, rolam pelo tapete , a cortina esvoaçando .
 
e o tirar de roupa de pudores , de pecados . 
sua mãos hábeis , sua boca quente , seus olhos me devorando .
 
decifra-me ou devoro-te .
eu menti . 
você decifrou-me e devoramo-nos .

você mentiu . 
fingiu decifra-me e eu me despi , eu nua , as palavras amargas , todo desassossego , desesperança .
 
eu destilando toda a dor , curando a dor com destilados . 
você fugindo dessa realidade tão dura , eu me desculpando por me desculpar .
 
eu já ouvi essas palavras , eu já vivi essa mesma agonia .
 
amanhã vai chegar , e eu sei como será . 
dia de sol , e o calor , e a pele e os olhos que ardem
 
acordaremos tarde, caminharemos sem pressa  .
 
você segurará firme a minha mão e na despedida , não te olharei  , te levando a entender o meu não querer .
 
eu me vou . você se vai .
e novamente a vida voltará a estaca de dura realidade .

se esvai .

fundo do mar .


brincando de colorir . 
pintando cada ato , na cama . 
sono profundo .
 
a arte de gozar e amar . 
é arte amar e gozar . 
amar gozar e gozar amor . 
é arte e é raro e caro . 
dói bem mais do que o normal .
 
e leva um pedaço da carne 
e leva pro fundo do mar . 
um mar branco , arenoso , traiçoeiro .