11 de fevereiro de 2010

Perfil no Orkut. [ACABEI DE APAGAR.]¬¬



"Na terra do coração passei o dia pensando - coração meu, meu coração. Pensei e pensei tanto que deixou de significar uma forma, um órgão, uma coisa. Ficou só com-cor, ação - repetido, invertido - ação, cor - sem sentido - couro, ação e não. Quis vê-lo, escapava. Batia e rebatia, escondido no peito. Então fechei os olhos, viajei. E como quem gira um caleidoscópio, vi:

Meu coração é um mendigo mais faminto da rua mais miserável.Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde caiu uma gota d’água. Olhado assim, de cima, pode ser Wu Wang, a Inocência. Mas tão manchado que talvez seja Ming I, o Obscurecimento da Luz. Ou qualquer um, ou qualquer outro: indecifrável.

Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexos.

Meu coração é um anjo de pedra de asa quebrada.

Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco.Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar, será feliz para sempre.

Meu coração é um filme noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.

Meu coração é um deserto nuclear varrido por ventos radiativos.

Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam destruindo tudo.

Meu coração é uma planta carnívora morta de fome.

[ By Caio Fernando Abreu.]


[Caí na besteira de ler Caio F. pela 1ª vez há anos.E em meio aos palavrões , obcenidades e a dura realidade dilacerante que continuamos a encarar como segredos proibidos, vi a beleza que só existe no Último Romance, ou talvez no Último Romântico punk-dark-narcisista-pós-moderno.

*-* Não tenho dúvida que me apaixonaria pelo Caio , assim como Clarice Lispector se apaixonou por Lúcio Cardoso.Um amor impossível, leviano.Um amor eterno. Um amor que já existe em mim, o mais puro amor à seus escritos.

By Tairine Albuquerque
00:20h - 6 de fevereiro de 2010

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